Carga doméstica enfrenta dificuldades

Enquanto a demanda de passageiros por voos domésticos cresce sem parar, com 13 meses de avanços consecutivos até outubro, o transporte aéreo de cargas nacional ainda encontra dificuldades para levantar voo. A queda de 3% na produção acumulada nos dez primeiros meses do ano do principal cliente desse modal – a indústria – e um desempenho aquém do esperado do PIB arrefeceram a contratação do transporte de mercadorias nos cargueiros dos aviões. Depois de avançar 3,8% em 2013, para um total de 408,62 mil toneladas de produtos pagos transportados, o modal verificou uma retração de 4,16% na movimentação de janeiro a outubro, em um total de 323,53 mil toneladas de carga paga transportada, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Ainda que o último trimestre seja tradicionalmente aquecido por conta dos volumes de produtos eletroeletrônicos, encomendas expressas e e-commerce, a expectativa para o ano é de retração ante os resultados do ano passado.
Os resultados verificados nos primeiros nove meses do ano contrastam, entretanto, com a grande movimentação verificada nos últimos dois anos dos principais players do segmento, de companhias aéreas às novas concessionárias de aeroportos, que anunciam investimentos milionários em novos terminais de armazenamento de carga, em tecnologias de gerenciamento e monitoramento das mercadorias, na ampliação das frotas e até na chegada de novos aviões cargueiros.

A aposta é que, considerando as características continentais do país, as grandes distâncias envolvidas para o transporte das mercadorias via rodovias e a uma malha ferroviária muito pequena, o modal aéreo pode finalmente decolar nos próximos anos. “Em 10 anos, a carga aérea passou de 273 mil para 408 mil toneladas, um crescimento de 50%. No mesmo período, o transporte de passageiros triplicou. Efetivamente, o desenvolvimento do transporte aéreo de cargas no Brasil está abaixo do seu potencial”, diz Adalberto Febeliano, vice-presidente comercial da recém-criada empresa de transporte aéreo de cargas Modern Logistics.

Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), o modal aéreo respondeu por apenas 0,4% do peso transportado no mercado interno em 2012, considerando todos os modais. Ainda que o frete aéreo possa ser até duas ou três vezes mais caro que o cobrado no transporte por caminhões, a possibilidade de reduzir o tempo de transporte de cinco dias para poucas horas em rotas como Guarulhos-Manaus ou São Paulo-Belém gera valor no quesito agilidade para embarcadores de produtos tão diversos como eletroeletrônicos (smartphones, tablets e televisores), a indústria farmacêutica, a de moda e confecção e até a automobilística e de autopeças, para citar alguns dos clientes mais assíduos.

Os investimentos das principais companhias aéreas que atuam nesse setor em ampliação de frota e na melhoria das estruturas físicas de recebimento e movimentação de mercadorias não param. A Avianca, que até agosto de 2014 transportava cargas exclusivamente nos porões de suas aeronaves de passageiros, iniciou em meados daquele mês as operações com seu primeiro cargueiro no país, um Airbus 330 zero quilômetro com capacidade de transportar 70 toneladas por viagem. A rota escolhida foi São Paulo-Manaus-São Paulo, com cinco voos semanais, de terça a sábado. O índice de ocupação do cargueiro em outubro chegou a 70%.

“O transporte de cargas no Brasil é dividido em dois eixos: Manaus-São Paulo e todas as demais rotas. Estávamos fora de metade desse mercado e trouxemos um cargueiro para atender a carga industrial dessa rota”, diz Tarcisio Gargioni, vice-presidente comercial, marketing e cargas da Avianca Brasil. Para transportar as cargas fracionadas nas outras rotas, a empresa também investiu na renovação da frota, com sete novos A-320 – cinco deles já em operação -, em substituição aos Fokkers-100, que aumentam a capacidade dos porões de 15 m3 para 35 m3.

Líder no mercado doméstico com share de 40,7% nas cargas pagas transportadas no acumulado do ano até setembro, a TAM Cargo finaliza no primeiro trimestre de 2015 um plano de investimentos de R$ 45 milhões na construção, ampliação e modernização de seus terminais de carga. Os aportes tiveram início com a inauguração do novo terminal de cargas da empresa em Manaus, em novembro de 2013, e continuaram este ano com as inaugurações dos terminais de Goiânia, em fevereiro, e Natal, em junho.

O braço de transporte de cargas do Grupo Latam prevê a inauguração, até março de 2015, do novo terminal no aeroporto de Guarulhos (SP) que, com área construída de 15 mil m2, será o maior da companhia no Brasil. “Em outros 20 terminais ou reformamos ou fizemos mudanças menores. Também estamos construindo um novo terminal em Brasília (DF). Apesar das incertezas de curto prazo no cenário do crescimento do transporte aéreo de cargas, enxergamos no longo prazo um horizonte positivo”, diz Diogo Elias, gerente Comercial de Cargas Doméstico – Brasil da TAM Cargo.

Já a Gollog, departamento de transporte de cargas da Gol, inaugurou em outubro uma unidade de recebimento de cargas em Americana (SP), a 104º no país e a sexta no ano. Até o final do ano, outras quatro devem ser abertas e, para 2015, estão previstas as construções de ao menos dez novas franquias. “Estamos sendo bastante criteriosos na abertura dos novos centros de operação para termos certeza de que são viáveis”, finaliza o diretor de cargas da Gol, Eduardo Calderón.

Embarques internacionais devem crescer 4,1% ao ano

Se o transporte doméstico de cargas pelo modal aéreo ainda patina, o volume de cargas internacionais com origem ou destino no Brasil cresce em velocidade acelerada.

Em 2013, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), foram 777,57 mil toneladas transportadas, um crescimento de 7,2% ante os resultados do ano anterior – e de 69% frente às 460,24 mil toneladas transportadas em 2004. Foi também o quarto ano de crescimento consecutivo. Estados Unidos, Alemanha e Argentina lideraram no ano passado o ranking dos principais destinos das mercadorias que decolaram de aeroportos brasileiros. Na mão inversa, o Brasil recebeu cargas principalmente dos Estados Unidos, Alemanha e Holanda.

Os números positivos colocam o país em linha com um cenário de reaquecimento global do transporte de mercadorias por aviões. O segmento, bastante afetado pela crise internacional de 2008 e pelo esfriamento do comércio internacional nos cinco anos subsequentes, deve crescer a uma média anual de 4,1% entre 2014 e 2018, segundo as projeções mais recentes da IATA, a associação internacional de transporte aéreo.

A projeção para o transporte aéreo entre as Américas do Norte e do Sul é apenas um pouco menor, de 3,9%.

As duas maiores companhias aéreas brasileiras já planejam explorar as principais rotas internacionais em que operam para elevar o embarque de mercadorias em seus porões. A Gol, por exemplo, já iniciou o embarque de mercadorias em seus voos para Santiago, no Chile, e pretende também viabilizar o transporte de cargas do Brasil com destino à Venezuela, onde atualmente está restrita ao transporte de passageiros. Ao mesmo tempo, já começa a explorar seus acordos de interline e de code-share com parceiros como Air France – KLM e Delta para elevar sua receita com cargas. Para tanto, está investindo na construção de um novo terminal de cargas de 2 mil m² no aeroporto de Brasília (DF), que servirá como hub da empresa para a distribuição das cargas internacionais dessas companhias nas “pernas finais” dentro do Brasil.

“Começamos um teste com uma rota piloto com a Air France-KLM agora em novembro. O serviço funciona como no transporte de passageiros. A carga que vem da Europa até Brasília, por exemplo, é de responsabilidade deles, e a Gol assumirá as rotas internas em que eles não voam. Até o início do ano faremos o mesmo com a Delta. A companhia trocou a aeronave que voava dos EUA para Brasília para um Boeing 767, o que significa mais espaço de porão e mais carga para ser transportada. O que falta para consolidarmos as operações é a integração dos sistemas das companhias”, diz Eduardo Calderón, diretor de cargas da Gol.

A TAM Cargo também aproveita a consolidação das operações entre TAM e LAN e o Brasil começa a ganhar mais espaço como origem e destino de cargas internacionais no Cone Sul.

O aeroporto de Guarulhos torna-se, assim, um hub importante para a movimentação de produtos como salmão do Chile, mirtilo da Argentina, aspargos do Peru e flores do Equador e da Colômbia, que desembarcam no Brasil para posteriormente serem transportados para os Estados Unidos e a Europa.

“Hoje conectamos muito mais cargas de países da América do Sul no aeroporto de Guarulhos do que fazíamos antes. Se eu não tivesse essa malha continental toda na América do Sul, não conseguiria abastecer tão bem os porões dos voos que decolam do Brasil para destinos como Madri, Frankfurt e Londres”, diz o gerente comercial de cargas doméstico – Brasil da TAM Cargo, Diogo Elias.
Fonte: Valor Econômico

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