Ex-presidentes do Brasil, Uruguai, Bolívia e México defendem a integração comercial ‘do Alasca à Patagônia’, e avaliam ‘estar na hora de reconhecer que o Mercado Comum do Sul não funciona’
O Brasil deve ocupar um papel mais relevante no cenário internacional para o enfrentamento dos atuais desafios na América Latina, a começar por uma integração comercial menos burocrática e mais efetiva, inclusive com os Estados Unidos.
Essa é a expectativa de quatro ex-presidentes de países da região, que participaram de seminário sobre o papel das lideranças no desenvolvimento do continente, no último domingo, durante o 14º Fórum de Líderes de Comandatuba, no sul da Bahia. Fernando Henrique Cardoso, Vicente Fox, Jorge Quiroga e Luis Alberto Lacalle, respectivamente ex-presidentes do Brasil, México, Bolívia e Uruguai, foram unânimes em considerar o Mercado Comum do Sul (Mercosul) ultrapassado e defenderam uma aliança maior com o restante do continente, especialmente Estados Unidos e Canadá.
“Será uma grata surpresa se em 30 de junho, durante a visita da presidente Dilma ao presidente dos EUA, Barack Obama, as negociações comecem a avançar rumo a uma integração regional, e que o Brasil finalmente lidere uma verdadeira união da América Latina”, afirmou Quiroga, potencial candidato às próximas eleições presidenciais no país vizinho. Segundo ele, não faz mais sentido o discurso que predominou no continente, da luta de “Davi contra Golias”. “Na Venezuela, insultam os imperialistas, mas vivem às custas do petróleo exportado para os EUA”, acrescentou durante o evento promovido pelo Lide – Grupo de Líderes Empresariais.
Messi e Neymar
Para Quiroga, o Mercosul não funciona. “A única integração do Mercosul é a do Barcelona, com Lionel Messi e Neymar”, brincou referindo-se aos jogadores argentino e brasileiro hoje no mesmo time espanhol. Com ele concorda FHC: “O bloco regional ficou burocrático e mais atrapalha do que ajuda os negócios. O caminho é uma zona de livre comércio, é expandir mais. Não se trata de acabar com o Mercosul, mas ampliar no sentido de zona de livre comércio”, disse. Para o ex-presidente tucano, o Brasil encolheu sua pretensão de exercer um papel maior no mundo. “Não falo do governo do presidente Lula, que foi muito ativo nisso, mas depois houve uma espécie de encolhimento do País em relação às responsabilidades perante o mundo”, ressaltou.
Nos últimos dez anos, a América Latina se dividiu diante da falta de acordo em relação à Aliança de Livre-Comércio das Américas (Alca). Os norte-americanos fizeram acordos bilaterais com quase todos os países do continente. “O Brasil foi ficando isolado do ponto de vista de seu relacionamento comercial”, destacou FHC. Citou o exemplo do México, que tem cerca de 30 acordos comerciais, enquanto o Brasil possui pouco mais de três.
Acordo com EUA
O ex-presidente do México também defendeu maior integração comercial de todas as economias latino-americanas com os EUA. “O acordo de livre-comércio do México, com o Canadá e os Estados Unidos foi um rotundo êxito. A balança comercial entre México e Estados Unidos está chegando à casa de bilhões de dólares e favorável a nós. E ao contrário do que se pensava, que o acordo ia nos derrotar, aumentamos nossa competitividade e nosso parque industrial cresceu muito. Os acordos de comércio já se converteram em investimentos na indústria”, afirmou.
O ex-presidente do Uruguai foi enfático em relação ao futuro do Mercosul: “Falta liderança e chega de Mercosul. Se não serve, tiramos fora. Dentro dos interesses do Brasil, o Mercosul é muito pequeno”, declarou. Lacalle defende que a região volte a falar outra vez “a linguagem do comércio, pois desde os fenícios a linguagem das nações é a do comércio”. Ele acredita que vai chegar um momento em que os integrantes do bloco regional vão se render à realidade e partir para a construção de algo mais modesto e prático.
“Precisamos criar as condições para que um empresário possa pegar um caminhão com suas mercadorias no Uruguai e ir para São Paulo vendê-las sem barreiras”, afirmou o ex-presidente uruguaio. É mais provável, segundo o ex-presidente, que os sul-americanos consigam firmar acordo com os EUA e formar um bloco que vá do Alasca à Patagônia, do que avançar nas negociações com a União Europeia.
DCI – Liliana Lavoratti