A crise que afeta vários setores da economia brasileira já atinge a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), empresa que administra o Porto de Santos, o principal do País. Com queda em suas receitas e aumento nas despesas, a Autoridade Portuária registrou uma redução de 84,78% em seu lucro no ano passado. Em 2013, o resultado contábil foi de R$ 142,31 milhões. Doze meses depois, o superávit só chegou a R$ 21,66 milhões.
E os problemas continuam neste ano. Em entrevista exclusiva a A Tribuna, o presidente da Codesp, Angelino Caputo e Oliveira, admitiu que, se nada for feito, a Docas corre o risco de entrar no vermelho até o final do semestre. Para evitar tal cenário, nas últimas semanas, diretores e superintendentes da companhia elaboram um plano de contingenciamento, de modo a reduzir os gastos. Obras que não foram iniciadas podem ser atrasadas e serviços não essenciais, reduzidos ou até suspensos. Os cortes, porém, não vão afetar atividades essenciais, como a dragagem do estuário de Santos, garante Caputo.
A estratégia para melhorar a saúde financeira da Autoridade Portuária ainda prevê a retomada das negociações com a Secretaria de Portos (SEP) para o reajuste de suas tarifas, congeladas há 10 anos. Os problemas financeiros enfrentados pela Codesp são, em princípio, semelhantes aos que atingem o Governo. “Nossas despesas aumentaram e a receita caiu”, resume Angelino Caputo, há 11 meses à frente da administradora portuária.
Conforme balancetes patrimoniais consultados por A Tribuna, houve um decréscimo de 2% na receita líquida da empresa, obtida pela arrecadação das tarifas portuárias e com os arrendamentos das áreas dos terminais. Em 2013, ela foi de R$ 758,76 milhões. No ano passado, alcançou a cifra de R$ 744,05 milhões.
Essa queda foi motivada, principalmente, pela redução na movimentação do Porto no último ano, um reflexo da desaceleração da própria economia brasileira, destacou Caputo. A quantidade de cargas embarcadas ou desembarcadas no complexo encolheu 2,6%, chegando a 111,16 milhões de toneladas. Desde 1992 o cais santista não registrava uma diminuição em suas operações.
Queda nas receitas da Codesp reflete a redução de 2,6% na movimentação de cargas em 2014, explica Caputo
Gastos
Simultaneamente ao decréscimo na receita, a Companhia Docas contabilizou um aumento em seus gastos. Os custos dos serviços cresceram 25,19%, indo de R$ 326,3 milhões para R$ 408,5 milhões. As despesas administrativas caíram 17%, de R$ 142,03 milhões para R$ 117,74 milhões, mas as despesas operacionais saltaram 73%, de R$ 89,45 milhões para R$ 154,79 milhões. Como consequência, o resultado financeiro líquido foi reduzido de um lucro de R$ 13,3 milhões para um prejuízo de R$ 23,8 milhões. Já o resultado operacional diminuiu 81%, de R$ 214,3 milhões para R$ 39,17 milhões, segundo os balancetes.
O resultado final do exercício é o resultado operacional descontando a cifra a ser paga com imposto de renda e Participação nos Lucros e Resultados (PLR) dos empregados. Os funcionários da empresa receberam o PLR referente a 2013, mas os resultados do ano passado não prevêem esse benefício.
Risco
Sobre o crescimento dos gastos, a Codesp informou que se trata de um reflexo do aumento das despesas com pessoal e encargos sociais, decorrentes da implantação do Plano de Empregos, Carreiras e Salários de 2013, que acabou afetando o exercício de 2014. A empresa ainda destaca os reajustes nos preços dos serviços contratados pela Docas, como energia e limpeza, a ampliação das atividades de “terceiros” (a dragagem de manutenção) e maiores provisões para riscos de ações civis e trabalhistas.
O presidente da Codesp, Angelino Caputo e Oliveira, enfatiza que “todos os nossos contratos, as nossas despesas, os salários de nossos funcionários sofreram reajuste. Mas não repassamos essa correção ao usuário do Porto. Esse é a nossa situação. Se continuar nessa velocidade (de crescimento nas despesas e queda nas receitas) e nada for feito, corremos, sim, o risco de entrarmos no vermelho”. Segundo o executivo, tal possibilidade ocorreria na metade do ano.
“É por isso que estamos preparando um plano de contingenciamento. Vamos manter nossas atividades-fim, mas temos de reduzir os gastos não essenciais. E também esse é o momento de retomarmos nossas conversas com a SEP para reajustarmos as tarifas, que não são corrigidas desde 2005. Faremos nosso trabalho e garanto para você que não vamos entrar no vermelho”, afirmou Caputo.
Uma boa notícia destacada pelo presidente é o aumento na movimentação de cargas verificado em janeiro e fevereiro passados. Foram 7,5 milhões de toneladas no primeiro mês do ano e 8,5 milhões de toneladas no segundo, resultado este que se tornou o novo recorde operacional para esse mês. Para o dirigente, “se essa recuperação for mantida, nossos problemas serão reduzidos”.
Fonte:A Tribuna (Santos) / Leopodo Figueiredo