Nova gestão terá o desafio de criar políticas que diminuam dependência dos importados. Prioridade deve ser dada à entrada de máquinas e insumos que agreguem valor aos produtos
Para reduzir o déficit nas contas externas do País, o novo governo vai precisar criar condições para ficar menos dependente dos importados, dando prioridade às compras de equipamentos e insumos que tragam competitividade à produção nacional.
“Apesar de a balança comercial estar relativamente equilibrada, são as importações que vêm prejudicando de maneira mais objetiva a balança de pagamentos”, diz o professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), Silvio Paixão.
“Portanto, o novo governo vai precisar criar uma agenda prospectiva de redução de dependência das importações no curto e médio prazo, ou seja, que contemple 2015 e 2016 “, complementa.
Para ele, isso pode ser feito a partir do estabelecimento de cotas de importações que restrinjam produtos que não sejam essenciais à competitividade. “Ao invés de importar carros de luxo, por exemplo, é importante dar prioridade à compra de insumos, máquinas e equipamentos com mais tecnologia, que ofereçam maior competência à produção nacional”, afirma.
Cenário
A geração de produtos com maior valor agregado se faz necessária em um momento de queda de preços das commodities agrícolas no mercado internacional. “Não vejo melhora dos preços de bens, serviços e das commodities em 2015. Além disso, o comércio internacional não vai aumentar mais que 10%. Portanto, só vamos ganhar mercado com produtos de maior valor agregado. Ao invés de mandar para fora minério de ferro, por exemplo, vamos começar a exportar chapa ferro”, sugere Paixão.
O diretor do Instituto Fractal de Análises de Mercado, Celso Grisi, concorda com essa análise e acrescenta que o novo governo deve fazer um reajuste da cotação do dólar, levando-o para um patamar mais próximo da realidade, entre R$ 3,00 e R$ 3,50, beneficiando, dessa forma, as exportações. “Somente com uma mera subida do dólar já conseguimos evitar muitas importações”, afirma.
Os entrevistados também sugerem mais políticas de financiamento às exportações, seja para capital de giro ou para a produção, além de redução de carga tributária para o setor. “Falta também um seguro às exportações. Hoje, isso só existe no papel. E as taxas para contratação são muito elevadas”, diz o diretor da Fractal.
O professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Orlando Assunção Fernandes, ressalta que o superávit comercial brasileiro sempre foi essencial para manter o número das contas externas relativamente equilibrado. “Observando a série histórica da balança de pagamentos desde 1945, percebemos que não há um único ano em que a conta de renda e serviços tenham sido superavitárias”, informa o professor.
“Com o saldo comercial registrando números baixos, mais os déficits em serviços e renda, temos esse rombo enorme nas contas externas”.
Fernandes chama atenção para esse problema estrutural do Brasil, acrescentando que, para resolver déficit em serviços, é preciso ter mais investimento infraestrutura.
Quanto aos aportes estrangeiros, Paixão não vê um cenário ruim para 2015. “O mercado de capitais está com bastante liquidez e deve investir no Brasil”, finaliza.
Fonte: DCI