Há dois anos à frente da Prefeitura Municipal de Guarulhos, Sebastião Almeida trabalha para resolver problemas básicos de infraestrutura na cidade e diz que até o final de sua gestão serão entregues, no total, três Estações de Tratamento de Água e Esgoto – ETE. A primeira, inaugurada em setembro, na região de São João, zona Leste da cidade, tem capacidade para tratar cerca de 15% do esgoto coletado. Entre outras obras, o prefeito pretende lutar, junto ao governo do Estado, para conseguir fazer chegar o metrô ao município, equacionando, assim, parte dos problemas do transporte na segunda cidade mais populosa do estado. Leia os principais pontos da entrevista.
J. Moraes – Para situarmos os internautas, o senhor poderia fazer um breve relato de sua trajetória política?
Prefeito Sebastião Almeida – Sou nascido no Paraná e vim com minha família para Guarulhos em 1979. Em 1984 me filiei ao PT e durante muito tempo fiquei apenas filiado, sem participar de nenhuma disputa. Em 1996, participei de minha primeira eleição para vereador. Não fui eleito e minha votação, de pouco mais de 1900 votos, permitiu-me ser o primeiro suplente do partido. Os amigos incentivaram bastante, mas eu saí um pouco frustrado, pois tinha uma expectativa grande. Quem disputa uma eleição, sempre disputa achando que está eleito. Só que eleição é algo muito complicado. Ela reserva muitas surpresas.
J. Moraes – E quando foi sua primeira vitória como vereador?
Almeida – Foi em 2000. Coincidiu que, nesse mesmo pleito, o Elói Pietá foi eleito prefeito e assumiu em janeiro de 2001. Como o Serviço Autônomo de Água e Esgoto – SAAE, tinha um problema seríssimo, a falta de água, e considerando um crescimento relevante da cidade nesse período, o prefeito Pietá me convidou para dirigir o SAAE e eu aceitei. Fui pra lá, montamos uma equipe muito boa, com excelentes profissionais, com um número significativo de engenheiros, e foi um sucesso. Acho que em uns seis ou oito meses começaram a aparecer melhorias no sistema de abastecimento de água.
J. Moraes – Como foi sua gestão na autarquia municipal?
Almeida – Dividimos a cidade, acertamos alguns problemas e começamos a construção de grandes reservatórios de água. Isso foi em 2001. Em 2002 eu pude mudar o conceito de a população ir até o SAAE fazer reclamações. Eu marcava reunião em cada região da cidade e, juntamente com uma equipe técnica, mostrava para cada cidadão o que estava acontecendo, se o problema teria uma solução rápida, se ia demorar, ou se ia ser a médio ou longo prazo. Eu, verdadeiramente, abria o jogo para a população porque acreditava que ela tinha o direito de saber. E foi muito bom porque o povo, na medida em que é conhecedor da informação, sabe dar o tempo necessário para que o administrador acerte o problema.
J. Moraes – E quando foi que o senhor chegou a deputado?
Almeida – Em 2002 fui eleito deputado estadual. Em 2006 fui reeleito e, em 2008, fui eleito prefeito. Em oito anos saí de vereador a prefeito. Foi algo meteórico!
J. Moraes – Qual o segredo de sua ascensão?
Almeida – Eu acho que o segredo de tudo sempre foi trabalhar, com muita transparência, levando o máximo de informação à população e trabalhar com paixão naquilo que faz. Acho que o segredo de qualquer profissão é você gostar do que faz.
J. Moraes – O senhor sempre foi simpatizante ao PT?
Almeida – Sempre fui muito simpático, lógico. Eu cresci num período crítico de final da ditadura militar. Evidentemente, que qualquer manifestação política que contestasse aquela situação existente teria a minha simpatia. E o PT fazia muito bem isso, naquela época.
J. Moraes – O senhor poderia listar suas obras mais relevantes como administrador público?
Almeida – Na cidade, uma das coisas que eu estou tendo muito orgulho de resolver é a falta de água. Porque não adiantava, lá atrás, eu querer discutir esgoto, quando o cidadão precisava de água. Entregamos, recentemente, a primeira estação de tratamento de esgoto. Isso significa que a cidade já está tratando 15% do seu esgoto coletado. Entregarei mais uma no Bom Sucesso, entre janeiro e fevereiro de 2011, pois a obra está num ritimo bastante acelerado. E já anunciei a terceira estação, com obras tendo início também no ano que vem. Quero chegar ao final de 2012 com 70% do esgoto da cidade tratado.
J. Moraes – Esgoto lhe parece a maior necessidade da cidade?
Almeida – Na verdade eu acredito que precisamos resgatar nas cidades a relação com a natureza. As cidades foram perdendo essa relação com o córrego, com o rio. Aliás, nós vivemos isso no bairro de Puerto Madero, em Buenos Aires. (O prefeito se refere à viagem que fez à Argentina em meados de novembro). O Rio da Prata era completamente poluído e eles fizeram um trabalho de despoluição. Hoje, é um dos locais mais bonitos de toda Buenos Aires, pois foi revitalizado, tem restaurantes, bares e comércio, quer dizer, precisamos, cada vez mais, trabalhar nessa direção. A relação harmônica que precisa existir entre crescimentos das cidades e preservação ambiental.
J. Moraes – Que outras necessidades a cidade apresenta?
Almeida – Outra ação importante, que eu estou levando muito a sério, é a questão dos CEUs, que eu me comprometi a construir. Quero entregar até 2012 dez CEUs na cidade, um em cada região. Entregamos o primeiro no bairro dos Pimentas.
J. Moraes – Qual a principal importância desses equipamentos?
Almeida – No CEU você trata o cidadão como um todo. A criança, o jovem que precisa de atividades esportivas, a pessoa mais idosa, que precisa continuar a praticar atividade física, a natação como um meio de se obter saúde, e, eu diria, que além de ser um equipamento educacional da melhor qualidade é possível trabalhar outro foco que precisa ser melhor desenvolvido no País: a prevenção.
J. Moraes – O senhor poderia explicar isso melhor?
Almeida – O Brasil tem uma política expressiva de trabalhar a questão de médico e remédio. Eu quero inverter isso. Precisamos evitar a doença, pois é mais barato do que tratá-la. Quanto mais atividade física e esportiva a população tiver acesso, mais saúde estará obtendo. Isso significa menos gente no hospital, menos gente nas unidades básicas de saúde. Com esse pensamento, vamos entregar até meados do ano que vem mais dois CEUs. Contabilizando, serão três CEUs até o primeiro semestre do ano que vem e eu terei mais um ano e meio para entregar mais sete CEUs para a cidade.
J. Moraes – Dá tempo? Existem recursos?
Almeida – Dá tempo e temos recursos. O mais difícil era desapropriar e eu já fiz a desapropriação. Eu diria que estamos corrigindo um dos maiores problemas que esse País já viveu, que é a questão da desigualdade. A região dos Pimentas e Bom Sucesso deve ter, aproximadamente, quase 150 mil habitantes e o CEU que lá construímos é a primeira piscina pública que aquela população está tendo direito. Não podemos mais conceber que a população só tenha direito à piscina se for associada a um clube. O poder público precisa corrigir isso e nós demos esse passo importante.
J. Moraes – E para a saúde, quais são os planos?
Almeida – Na saúde, temos alguns problemas a serem consertados na cidade. Eu entreguei, no hospital construído pelo então prefeito Pietá, na região dos Pimentas, um andar com maternidade, centro cirúrgico, internação, enfim, tudo é feito lá. Ninguém precisa mais sair de lá pra vir ao Hospital Municipal de Urgências – HMU, pois naquela região agora tem tratamento. Estou começando uma grande obra na estrada de Nazaré, no São João, porque o meu projeto é, no futuro, fazer um grande hospital. No entanto, até que fique pronto, já comecei as obras de um pronto-socorro 24 horas, uma UPA. Guarulhos terá 3 Unidades de Pronto Atendimento. Uma no São João, outra no Paulista e outra em Cumbica. São equipamentos importantíssimos, que irão desafogar, um pouco, o grande número de pessoas que procuram o hospital hoje. E, sempre com esse conceito: ampliar a rede de atendimento à saúde, mas também, criar condições para que as pessoas possam ter vida saudável com prática de atividades físicas, alimentação e moradia corretas. Vou trabalhar cada vez mais com esse conceito. E, um outro, é arborizar a cidade. A Avenida Tiradentes já está sendo preparada para isso e vamos continuar plantando muita árvore na cidade.
J. Moraes – O que pode ser feito para melhorar o entorno da região do Aeroporto Internacional de Guarulhos?
Almeida – Esse é um problema cultural. O conceito de aeroporto, em 1985, quando foi construído, era que aeroporto era um local para que as pessoas de bem entrassem e saíssem. Quer dizer, o aeroporto era destinado ao turista que vem visitar o Brasil, ao empresário e ao homem de negócios. O conceito estava errado. Tanto é que o aeroporto é considerado uma obra de primeiro mundo, que convive com favela e tudo o que é precário no seu entorno. Isso também por uma postura equivocada de quem dirigiu a Infraero durante muito tempo.
J. Moraes – Com esse diagnóstico, o que está sendo planejado?
Almeida – Estamos, aos poucos, fazendo essa discussão com a Infraero. Entendemos que ela só vai viver bem se também tiver política de relação com o seu entorno.
J. Moraes – Existe alguma conversa?
Almeida – Existe. Estamos trabalhando duro nesse sentido. Aliás, estamos fazendo inúmeros investimentos e posso dizer que a maior obra da prefeitura de Guarulhos hoje é a rodoviária da cidade, que iremos inaugurar em dezembro. Será a primeira rodoviária da cidade, um terminal turístico, lindo! A única maneira de resolver os problemas de trânsito em uma cidade é ter metrô, trem e ônibus de qualidade para o transporte coletivo.
J. Moraes – O problema de infraestrutura na cidade é preocupante?
Almeida – Eu diria que qualquer governante que não tiver essa visão de futuro vai ser condenado pelo povo. O Brasil não suporta mais a infraestrutura como está. Quem governa tem que ter pensamento grande. Estou feliz porque tenho conhecimento de que, nesse mês, o governo federal define qual o consórcio vai construir o Trem de Alta Velocidade – TAV, que vai ligar Campinas ao Rio de Janeiro, com uma estação em Guarulhos.
J. Moraes – E o metrô, não vai chegar a Guarulhos?
Almeida – O governo do Estado já se comprometeu, durante a campanha, a trazer o metrô para a cidade. Isso está na propaganda que eu guardei e vou cobrar do governador Alckimin.
Fui deputado durante o período em que ele foi governador. Assim que ele iniciar o mandato, quero pedir uma audiência com ele e levar algumas preocupações da cidade nesse sentido. Acho que o maior desafio deste futuro governo é, sem dúvida nenhuma, trazer o metrô ou um trem, padrão metrô, para a cidade. Em nenhum lugar do mundo existe um aeroporto com as dimensões do nosso, sem conexão com o metrô. Portanto, aqui, não se trata de fazer nenhuma caridade. Estamos corrigindo um erro, que deveria ter sido feito em 1985, quando o aeroporto foi construído.
J. Moraes – Para resolver o trânsito da cidade que fica, a cada dia mais difícil, o que fazer?
Almeida – Vamos ter obras grandes. Acho que a cidade de Guarulhos vai viver um momento espetacular de mudança, em termos de facilidade na questão de logística, na infraestrutura. O Rodoanel, trecho norte, está em andamento. Temos a Jacu-Pêssego, que é uma obra cujos recursos eu já tenho. Enfim, acho que, durante muitos anos, Guarulhos teve governos que dialogaram pouco com a cidade. Quem faz uma cidade melhor é o seu povo. Na medida em que o povo participa ele só tem a ganhar. Vamos pavimentar 26 ruas da cidade satélite industrial de Cumbica. Temos 60 ruas para pavimentar. Porém, só vou ficar contente o dia em que 100% das ruas da cidade satélite forem feitas. E não é só isso. O parque industrial de uma cidade tem que ser bonito, tem que ser um local que a pessoa se apaixone e queira trazer sua empresa e lá instalá-la. Fácil de entrar, fácil de sair, bem iluminado, pistas boas e seguro. Essas coisas são fundamentais. Na medida em que você aproxima suas ações do empresariado e da população de um modo geral, você constrói alternativas de solução para os problemas de forma rápida. A gente só resolve o problema de trânsito com transporte de massa. Não tem outro caminho.
J. Moraes – O senhor esteve em missão oficial em Avellaneda, município de Buenos Aires na Argentina. Que balanço o senhor faz dessa viagem?
Almeida – Foi uma excelente viagem. Acredito que essa relação Brasil/Argentina seja muito importante. Essa relação já trouxe resultados importantes para a cidade, pois temos aqui instalada uma empresa chamada Carmocal, que veio para cá em 2003, fruto desse diálogo, desse novo conceito de pensar as cidades. Precisamos continuar a mostrar nossa cidade lá fora. Acredito que não existe saída para os países se a relação com os vizinhos não for boa. O Brasil precisa, cada vez mais, estreitar seus laços. Isso melhorou muito nesses últimos anos, mas precisamos continuar nesse sentido, porque muitas vezes, uma deficiência deles pode ser superada com algo que a gente possa estar fazendo por aqui. Ou vice-versa.
J. Moraes – Guarulhos tem acordos firmados em outros países?
Almeida – Sim, com a Itália, por exemplo, temos uma relação muito boa. Também com a França. Entendo que Guarulhos tem procurado estabelecer relações também com cidades aeroportuárias, até para compartilhar essas experiências e ampliar isso. O nosso secretário de relações internacionais tem feito um trabalho muito grande nesse sentido. E eu tenho dado todo apoio e incentivo.
J. Moraes – O senhor também esteve na embaixada do Brasil em Buenos Aires.
Almeida – Também e foi muito bom. Eu não tinha noção do tamanho da Embaixada Brasileira na Argentina. Surpreendi-me totalmente. De todos os lugares que eu fui, acho que é a maior embaixada que eu já visitei. Uma embaixada que tem 150 funcionários. Isso mostra a pujança, a grandeza de negócios que os dois países estão estabelecendo. O embaixador, que é uma pessoa fantástica, fez um diagnóstico, um balanço, e afirmou que em toda a história de Brasil e Argentina esse é o melhor momento de negócios que os dois países estão vivendo. As coisas estão indo bem. Eu acho que tem tudo para melhorar ainda mais.
J. Moraes – O senhor esteve acompanhado por 13 empresários guarulhenses.
Almeida – Sim. Acredito que esta seja uma maneira de dizer muito obrigado aos empresários da nossa cidade. Quando você monta uma delegação que é composta por empresários, segmentos da sociedade e poder público, você está dando um sinal de que existe unidade, diálogo e entendimento. E isso é muito importante. O Brasil está vivendo, cada vez mais, uma relação harmoniosa entre capital e trabalho, entre forças produtivas. E, também, está provado por A+ B que todos precisam melhorar seu nível para que o de todos melhore. Acho que a relação que estabelecemos com a Argentina deva ser cuidada com muito carinho e ampliá-la na medida do possível. Acredito, sinceramente, que só existe um jeito de sermos melhor: se diminuirmos, cada vez mais, as desigualdades sociais. E estamos procurando fazer isso.
Prefeito Almeida,
É preciso que o Município de Guarulhos se comprometa efetivamente com a expansão do Metrô para a cidade, pois esse é o melhor modal para a ligação do Aeroporto de Guarulhos com o centro de São Paulo. Além do compromisso político é preciso que a municipalidade se comprometa com o financiamento da obra, que deve servir regiões estratégicas para os guarulhenses, como o Shopping Internacional de Guarulhos, o Centro da cidade e o próprio Aeroporto Internacional, que também merece ser expandido para atender ao crescente número de usuários.
Airton
É indispensável viabilizar a expansão da linha 4-amarela do Metrô para a cidade de Guarulhos, a segunda mais populosa do estado de São Paulo, pois tal medida além de contribuir para descongestionar as linhas 1-Azul e 3-vermelha, visto que a cidade está situada a nordeste da cidade de São Paulo, na região metropolitana, também facilitará o acesso ao aeroporto de Cumbica, atendendo ainda a bairros das zonas leste e norte de São Paulo ainda não servidos pelo metrô como o Pari, Vila Maria e Parque Novo Mundo, além de importantes centros comerciais da cidade de Guarulhos, como o Internacional Shopping/Dutra/Itapegica, o centro de Guarulhos e o aeroporto de Cumbica.
Além disso, existe o projeto da linha 17-ouro que ligará o aeroporto de Congonhas à estação Morumbi da linha 4-amarela, o que permitirá a conexão na mesma linha aos dois principais aeroportos da região metropolitana de São Paulo, atenuando o grave problema da mobilidade urbana na cidade de São Paulo e em vias importantes como a Rodovia Presidente Dutra.
O trem de Guarulhos é um projeto complementar que atende a uma parcela específica da população guarulhense que mora nos bairros mais afastados de Parque CECAP e Jardim Presidente Dutra, pois o traçado da linha sequer passa pelos principais centros comerciais da cidade de Guarulhos.