Com atraso hoje de um ano, a conclusão das obras do novo terminal do aeroporto internacional de Viracopos, em Campinas (93 km de São Paulo), vai ser adiada mais uma vez. A reforma deveria ter ficado pronta antes da Copa do Mundo, no ano passado.
Após ter conseguido um financiamento de R$ 637,7 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a concessionária Aeroportos Brasil marcou nova data para a entrega da obra: setembro de 2015.
A reforma de Viracopos – maior aeroporto de cargas do país– deveria ter sido concluída para o Mundial do Brasil, em 2014, já que a região de Campinas recebeu sete seleções que participaram do torneio – incluindo Portugal, do craque Cristiano Ronaldo.
Por causa do atraso, a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) autuou a concessionária e agora decide o valor da multa, que pode chegar a R$ 170 milhões, mais R$ 1,7 milhão por dia de atraso na obra. O novo terminal foi orçado em cerca de R$ 2 bilhões.
Uma das empresas que formam o consórcio de Viracopos é a UTC, empreiteira citada na Operação Lava Jato, que apura esquema de corrupção na Petrobras. Seu presidente, Ricardo Pessoa, é apontado como líder do cartel de empresas envolvidas no esquema. Após quase seis meses preso, ele cumpre agora prisão domiciliar.
Desde o envolvimento da UTC na Lava Jato, as obras no aeroporto estão em ritmo lento. Segundo funcionários, faltaram recursos para a conclusão da reforma. De acordo com o contrato de concessão, o terminal deveria ter sido entregue em maio do ano passado. Mas só um terço do espaço funciona.
A concessionária nega, porém, que houve falta de recursos.
EMPRÉSTIMO
Para obter o financiamento pelo BNDES, a concessionária teve que esperar por quase seis meses – prazo acima do normal para o processo, que costuma ser de três meses. Antes de aprovar o empréstimo, já em fase de contratação, a direção do banco quis saber de todas as garantias.
Contados todos os financiamentos e emissão de debêntures, o BNDES já emprestou R$ 3,6 bilhões à concessionária Aeroportos Brasil – referentes a obras de todo o complexo portuário de Viracopos. Um dos financiamentos, de R$ 1,5 bilhão, foi usado para quitar outro empréstimo, de R$ 1,2 bilhão. Os títulos da dívida foram de R$ 300 milhões.
Apesar do envolvimento de uma sócia com a Lava Jato, não há irregularidade no financiamento do BNDES.
Em nota, o banco informou que financiou os “investimentos do consórcio responsável pelas obras do aeroporto, não de uma empresa específica”. Já a concessionária informou que o pedido, feito no último trimestre de 2014, segundo a assessoria, seguiu seu fluxo normal.
A UTC disse, também em nota, que seus projetos seguem o curso planejado e têm sido “compartilhados com investidores, clientes e fornecedores”. A empresa não se manifestou sobre o envolvimento na Lava Jato e a dificuldade em obter recursos.
Folha de São Paulo
Por Venceslau Borlina Filho
De Campinas