Fonte Ministério do Desenvolvimento, Industria, Comercio e Serviços
Menos de 1% das empresas brasileiras exportam, mas elas são responsáveis por 15% dos empregos formais no país
A partir desta segunda-feira (26/6) o público já pode ter acesso a um estudo inédito realizado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) que fez uma radiografia do comércio exterior brasileiro. O objetivo do estudo “Perfil das Firmas Exportadoras Brasileiras – Um Panorama” foi mapear os desafios a serem enfrentados no trabalho de promoção do comércio exterior das empresas do nosso país, para avançar na agenda de competitividade do Brasil.
Informações para agentes públicos e privados
O estudo apresenta uma radiografia abrangente das empresas que exportam, no Brasil, detalhando onde elas estão localizadas, quais os mercados de destino preferidos, e como elas se diferenciam das demais empresas que não exportam. O trabalho também identifica como se dá a dinâmica de entrada e permanência dessas firmas no comércio internacional.
São informações que ajudarão o leitor a compreender melhor o desafio imposto às empresas que buscam a inserção internacional. O levantamento serve de subsídio para agentes públicos e privados responsáveis por desenhar políticas e estratégias empresariais destinadas a induzir a internacionalização das empresas brasileiras.
Na avaliação da secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, o diagnóstico identifica desafios a serem enfrentados para que mais empresas exportem. De acordo com Tatiana, a reforma tributária, por exemplo, poderá dar uma enorme contribuição, não apenas para que a produção nacional seja mais competitiva, mas também para que o país pare de exportar tributos, o que, infelizmente, ainda é uma realidade.
Segundo o Diretor de Planejamento e Inteligência comercial da Secex, Herlon Brandão, há uma demanda crescente por conhecer o perfil do comércio internacional por características de empresas. “Ainda poucos países possuem iniciativas para a produção desses dados e o Brasil é um dos primeiros a disponibilizar essas informações”, afirmou. Além do presente estudo, a Secex lançou neste ano as estatísticas de Exportação e Importação por Porte Fiscal de Empresas. “A capacidade em produzir essas informações fez com que o Brasil integrasse o grupo de especialistas das Nações Unidas que está construindo um manual internacional com recomendações para a produção sistemática de dados de comércio por características de empresas, conta o diretor.
Importância da integração regional e de mercados grandes
O levantamento identificou que somente 1% das empresas brasileiras vende para o exterior. Em números absolutos, são aproximadamente 25 mil firmas as que já conquistaram seu lugar no mercado externo. Ao mesmo tempo, elas respondem por cerca de 15% dos empregos formais do país.
“Chamou a nossa atenção o fato de que a grande maioria (61%) dessas empresas realiza negócios na América Latina, o que reforça a importância da integração regional”, diz a secretária. Segundo ela, além das vantagens da proximidade geográfica e cultural, os produtos brasileiros encontram tarifas mais baixas na região, fruto de acordos comerciais.
De fato, segundo o diagnóstico inédito da Secex, as tarifas médias impostas pelos parceiros comerciais do Brasil figuram como um fator relevante para empresas exportadoras definirem o destino de suas mercadorias.
Por outro lado, o estudo identifica que o tamanho do mercado consumidor passa a ser, cada vez mais, um elemento importante na definição do país alvo das empresas exportadoras. De 2018 a 2020, aumentou em 24% o número de empresas exportando para a China. Para os EUA, o crescimento foi de 21%. Para a União Europeia, de 16%. Por outro lado, o número de firmas exportando para o Mercosul cresceu apenas 2%.
Salários até 124% maiores
O estudo constatou, ainda, que empresas exportadoras, em média, pagam salários maiores, contratam mais e empregam uma proporção maior de trabalhadores com ensino superior em comparação com as empresas não-exportadoras. O prêmio salarial pago pelas empresas exportadoras em relação às não-exportadoras varia de 36% a 124%, dependendo do setor de atividade da empresa.
Chance de 65% de seguir exportando depois do primeiro ano
Entre as firmas que conseguem vender para outros países, a chance de seguir exportando após o primeiro ano de vendas externas é de aproximadamente 65%. O estudo também revelou que a maior parte das empresas exporta de maneira esporádica. Períodos de exportações ininterruptos possuem duração mediana de 3 anos. Manter as empresas no mercado externo é um desafio importante.
Concentração regional
O estudo da Secex mostra que as empresas atuantes no comércio exterior são concentradas em regiões específicas do Brasil. 54% das firmas brasileiras que venderam ao exterior em 2020 estavam localizadas nos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul. O estudo também verificou que o percentual de firmas que exportaram para países do Mercosul foi quase 2,5 vezes maior nas regiões Sul e Sudeste do que nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Foi constatado, também, que as exportadoras localizadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste possuem maior escala (tamanho) em média, com 30% mais empregados do que as firmas exportadoras estabelecidas no Sul e Sudeste.
Vetor de desenvolvimento econômico
De acordo com a Secex, entender a dinâmica das firmas exportadoras é fundamental para que possamos estimular nossa participação no comércio exterior. A inserção das empresas de um país no comércio internacional é tradicionalmente vista como um importante vetor de desenvolvimento econômico. Empresas que acessam os mercados internacionais são positivamente impactadas no seu crescimento, demandam mão de obra mais qualificada e precisam aumentar continuamente a sua produtividade para se manterem competitivas.
Apesar desses efeitos benéficos, competir em mercados estrangeiros não é considerada uma tarefa fácil. As empresas que quiserem trilhar esse caminho precisam enfrentar, além da competição a nível global, os mais diversos tipos de obstáculos tarifários e regulatórios impostos por governos estrangeiros para aceitar que produtos importados sejam comercializados em seu território.
Por isso, essas dificuldades fazem com que apenas uma parcela das empresas com potencial exportador efetivamente participe do comércio internacional, a despeito dos potenciais benefícios que elas poderiam adquirir ao fazê-lo. Justamente por isso, é preciso estudar as características das empresas exportadoras e, principalmente, entender como funciona a dinâmica da exportação e as principais dificuldades enfrentadas no processo de exportar.
Oportunidades para ampliar a base exportadora do Brasil
Para fazer com que mais empresas se beneficiem do mercado externo, a Secex tem entre as suas prioridades a facilitação de comércio, o fomento à cultura exportadora e a promoção comercial, com foco nas MPMEs. Além disso, a Secex também atua para abrir mercados para os produtos brasileiros, tanto por meio da negociação de novos de acordos comerciais e do aprofundamento daqueles já existentes, quanto pela superação de barreiras que afetam as exportações brasileiras. Ademais, o governo federal trabalha para concluir até 2026 o Portal Único de Comércio Exterior, aprimorando processos, integrando sistemas e reduzindo burocracia, custos e prazos para os operadores de comércio exterior. “Ampliar a base exportadora gerará ganhos concretos para o Brasil”, destacou Tatiana Prazeres.