Agentes federais encontraram droga em navio cargueiro da MSC. Sérvios estão envolvidos na ação criminosa
Agentes federais apreenderam 172 quilos de cocaína em um navio no Porto de Santos. A droga estava escondida em um dos compartimentos internos do MSC Loretta, um porta-contêiner, com bandeira do Panamá, que pesa até 85 mil toneladas quando totalmente carregado. O entorpecente foi embarcado na última segunda-feira (13), enquanto o cargueiro aguardava para entrar no cais santista, durante ação de parte de uma quadrilha que atua no tráfico internacional. Pelo menos três estrangeiros foram detidos para averiguação.
Todo o ato criminoso, que ocorreu durante a madrugada, foi flagrado por agentes da Polícia Federal e da Receita Federal, com apoio de recursos tecnológicos,e que atuaram em conjunto para desmantelar o esquema. Imagens registraram o momento do embarque da droga, que permaneceu escondida por dois dias, até o final da tarde de quarta-feira (15), quando sete pacotes foram localizados. O material foi encontrado com a ajuda de cães farejadores da Polícia Militar e das guardas Portuária e Civil de Guarujá.
“A droga estava em um dos porões do navio. Com ela, estavam sinalizadores e materiais luminosos, que ajudariam na entrega dos pacotes”, explicou o delegado Núcleo Especial de Polícia Marítima (Nepom), Ciro Tadeu Moraes, da Polícia Federal. Ninguém no navio foi detido, uma vez que ainda não possível determinar os envolvidos por embarcarem os entorpecentes, mas as investigações continuam. Inclusive para tentar localizar os três homens de nacionalidade sérvia que levaram a droga ao cargueiro, na segunda-feira, mas que foram soltos pela Justiça por falta do flagrante.
O MSC Loretta possui 304 metros de comprimento e 40 de largura (boca). Nos últimos 10 dias, ele esteve nos Porto de Itajaí e de Navegantes, ambos em Santa Catarina , de Paranaguá, no Paraná, e de Salvador, na Bahia. Ele estava previsto para sair do Porto de Santos nesta quarta-feira, período em que deveria movimentar, segundo a Autoridade Portuária, quase 5 mil toneladas de carga, entre embarque e desembarque de contêineres, e seguiria viagem para Las Palmas, na Espanha, provável destino da droga aprendida pelos agentes federais.
Flagrante em alto-mar
Agentes da Polícia e da Receita Federal flagraram o momento exato em que três homens entregam os pacotes de entorpecentes a tripulantes do MSC Loretta, antes mesmo de o navio entrar no Porto de Santos. A ação criminosa ocorreu durante a madrugada, na primeira hora da última segunda-feira (13), a aproximadamente 16 quilômetros da costa. A embarcação estava no Fundeadouro 5, um dos pontos mais distantes de espera, aguardando a vez para atracar no Terminal de Contêineres (Tecon), em Guarujá.
As imagens obtidas com exclusividade por A Tribuna mostram o monitoramento a distância do porta-contêiner de bandeira panamenha pelos agentes, que estavam a bordo da lancha patrulha Leão Marinho, do Fisco. A embarcação, considerada uma das mais modernas para o combate ao contrabando em operação no Brasil, está equipada com uma câmera térmica capaz de captar imagens em alta definição, mesmo sem qualquer tipo de iluminação, a mais de mil metros de distância do possível alvo.
Aos 45 minutos da última segunda-feira, é possível notar a aproximação de um bote, em alta velocidade e proveniente da costa, pela proa (parte frontal) do navio da MSC. Desconfiados da atitude, os agentes posicionam a lancha de modo a poder observar o que ocorria. A descoberta aconteceu exatos sete minutos depois, quando é feito o registro e a avistagem do momento em que algum tripulante, de dentro do cargueiro, puxa uma corda presa a um grande pacote.
O fato se repete pelo menos outras quatro vezes, como se vê nas imagens. Em uma delas, o peso do embrulho faz com que ele toque a água e, em seguida, seja recolhido rapidamente ao navio. Durante 15 minutos o bote permanece próximo à proa da embarcação, perto de onde está a grossa corrente que fica presa à âncora do navio. Só ali os agentes notam a presença, no pequeno barco, de pelo menos três pessoas que, aparentemente, não percebem que estão sendo observados pelos policiais e fiscais da receita.
Encomenda entregue, o barco segue em alta velocidade em direção à Bertioga de onde ele deve ter saído, conforme apuração da polícia. Uma perseguição começa e a lancha do Fisco consegue alcançar os suspeitos nas proximidades da entrada do Canal estuarino daquela cidade. Descobre-se aí que o trio é estrangeiro, todos provenientes da Sérvia. Eles então são detidos para averiguação pelos policiais federais. Na embarcação, porém, nada de suspeito foi encontrado.
As imagens não foram suficientes para que a Justiça garantisse que os três permanecessem presos. Apenas um deles possui residência fixa no País. Eles foram liberados, enquanto, paralelamente, determinou-se a busca pelos pacotes que foram deixados na embarcação, que entrara no cais escoltada. Desde então, agentes federais, com auxílio de cães farejadores da Polícia Militar, da Guarda Municipal de Guarujá e da Guarda Portuária, tentavam encontrar os entorpecentes entregues.
Três dias após o flagrante, com já remota a possibilidade de a droga ainda estar a bordo, mergulhadores do Comando de Operações Especiais (COE) da Capital também auxiliaram nas buscas, inclusive na região do fundeadouro onde estava o navio enquanto aguardava para entrar no cais. A localização das drogas ocorreu, entretanto, ao final da tarde desta quarta-feira por uma equipe do Fisco, que vasculhava um dos decks inferiores do cargueiro. Elas estavam escondidas, divididas em sete grandes pacotes.
Quadrilha sérvia
A Polícia Federal conseguiu desmantelar uma quadrilha de sérvios que utilizava o Porto de Santos e o Porto de Navegantes, no Litoral Norte de Santa Catarina, para exportar droga há aproximadamente quatro anos. Em maio de 2011, os agentes conseguiram prender ao menos 47 pessoas que integravam os trabalhos ilegais para transportar a cocaína para a Europa pelos complexos portuários brasileiros. O modo operacional utilizado pela quadrilha à época é mesmo que o de agora, mas ainda não se sabe há relação entre os grupos.
“Estamos investigando para verificar se há ligação. Estamos atrás também dos que estavam no bote. Equipes em São Paulo estão fazendo a varredura para tentar localizá-los novamente, mas ainda é cedo para garantir que há ligação”, explica o delegado responsável pelo Nepom.
Os bandidos usavam lanchas de alta velocidade para levar as mochilas com entorpecentes até os cargueiros. A ação tinha que ocorrer antes da entrada no cais, uma vez que o embarque de entorpecentes durante a atracação é mais suscetível a flagrantes, devido à vigilância dos portos. Depois, também impossível, já que o navio, desatracado, tem que seguir viagem imediatamente ao destino programado, o que o impede de realizar alguma parada, exceto em caso de emergência, na Barra.
Ao todo, as mochilas eram capazes de comportar até 200 quilos de droga. Elas eram “pescadas” pelos tripulantes, que integravam a quadrilha, durante a noite – momento em que a falta de iluminação dificulta a possibilidade do flagra ocorrer. Além de Santos e Navegantes, o transporte de drogas ocorria nos portos Rio Grande, no Rio Grande do Sul, e outros localizados no Nordeste. O chefe desta quadrilha foi preso em Bauru e, na ocasião, extraditado para a Sérvia.
A Tribuna
JOSÉ CLAUDIO PIMENTEL